Dra. MARIA GIZELDA TRIGUEIRO DA SILVA, natural de Missão Velha-CE,
nascida a 18 de fevereiro de 1934. Médica, professora, diretora de hospital,
patrona de Hospital em Natal-RN. Gizelda viveu sua juventude e realizou seus
estudos em Recife, Pernambuco, mas foi em Natal que lançou suas sementes
familiares e se dedicou intensamente à sua profissão, sentindo-se, por adoção e
por direito, uma cidadã norte-rio-grandense, com título indicado por Dr.
Vivaldo Costa e homologado unanimemente pelos integrantes da Assembléia
Legislativa Estadual. Ao receber aquele título, assim falou: “Aqui vivi minhas
lutas, chorei meus desenganos, cantei as minhas vitórias, afirmando-me
profissionalmente, consolidando grandes amizades e integrando-me à sociedade
norte-rio-grandense.”Seu curriculum vitae é invejável, tendo diplomas de
Filosofia Ciências e Letras e de Didática Geral, obtidos na Universidade
Católica do Recife, em 1951 e em 1955, respectivamente. Como aluna do curso
médico, participou da pesquisa “Valor da biópsia hepática no diagnóstico da
fibrose hepática por E. Mansoni”, realizada na Clínica de Doenças Tropicais e
Infecciosas do Hospital Pedro II, no Recife, concluindo sua formação médica em
8 de dezembro de 1959.
Em 1961, substituiu o Professor
Francisco Xavier Olavo Montenegro, na regência da Cadeira de Doenças Tropicais
e Infecciosas da Faculdade de Medicina do Rio Grande do Norte. Seis anos
depois, o Sanatório Getúlio Vargas foi transferido para um prédio novo e sua
antiga sede foi transformada em hospital para tratamento de doenças
infecto-contagiosas, recebendo o nome de Hospital Evandro Chagas, sob sua
direção. Defendeu tese de Livre Docência em 1976, sobre “Tétano no Rio
Grande do Norte – Alguns aspectos epidemiológicos e clínicos”, sob a orientação
do Professor Ricardo Veronesi, da Disciplina de Doenças Infecciosas da USP, uma
referência internacional no assunto. Em recente manuscrito a nós dirigido,
o eminente Professor Veronesi assim se referiu à nossa homenageada: “Giselda
teve papel importante, se não decisivo, em 1980, na criação da Sociedade
Brasileira de Infectologia por mim fundada, com total apoio dessa magnífica
companheira. Tive, nesses 20 anos de salutar convívio com Giselda, a satisfação
de receber o carinho e a amizade de seu esposo, Professor Kerginaldo Trigueiro
e seu três filhos. Giselda foi mãe e esposa exemplar e seu trajeto pela
Medicina foi marcado por episódios que honraram e dignificaram sua família,
seus amigos, seus discípulos e seus colegas”. Discorrendo ainda sobre o
seu curriculum vitae, nossa homenageada realizou estágio na Escola de Higiene e
Medicina Tropical de Londres e participou de inúmeros trabalhos apresentados em
Congressos Nacionais e publicados em revistas de importância científica, dentre
outras inúmeras atividades de chefia, ensino e pesquisa na Universidade Federal
do Rio Grande do Norte. Nessa inumerável lista, salientam-se conferências
proferidas, aulas magistrais, participação em bancas examinadoras de concursos
universitários locais e de outros estados e em Conselhos Editoriais de revistas
médicas. Exerceu a presidência da Sociedade Norte-rio-grandense de
Infectologia e da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical seccional do RN e,
na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ocupou os cargos de Chefe do
Departamento de Infectologia e Coordenadora do Curso de Medicina. Foi ainda
Presidente da Associação Médica do Rio Grande do Norte e da Sociedade de
Médicos Escritores do Estado. Vale recordar a sua grande capacidade criativa ao
escrever versos de literatura de cordel. Ela trouxe para Natal o XVI Congresso
da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical que, presidido por sua liderança,
mostrou a quase mil congressistas de outros Estados da Federação a competência
científica dos nossos participantes locais e as belezas naturais da nossa
cidade. Durante este evento, tive a satisfação de conhecer o Professor Luiz
Carlos da Costa Gayotto, a quem devo muito da minha formação em
hepatopatologia. O Professor Jayme Neves, da Universidade Federal de Minas
Gerais, que deste evento também participou recorda, em contatos mantidos
conosco, de uma chuva torrencial que quase atrapalha o lauto jantar que ela
ofereceria aos participantes do Congresso, ao redor da piscina da sua
residência. Este incidente não foi capaz de fazê-la perder seu bom humor,
embora em prantos de desapontamento... Representou o Brasil em Congresso
Internacional realizado na Suécia, discorrendo sobre um tema do qual era
profunda conhecedora, “O tratamento do tétano”, ilustrando sua apresentação com
uma das maiores casuísticas mundiais, tornando-se assim, conhecida e respeitada
no mundo científico nacional e internacional. Sobre esse tema, participou como
colaboradora na redação do capítulo de livro do professor Jayme Neves. Recordo
como a mesma sentia-se frustrada ao ouvir o ruidoso barulho do trem que até
hoje ainda trafega diante do antigo Hospital Evandro Chagas, pois à sua
passagem seguiam-se ataques convulsivos dos recém-nascidos tetânicos dos quais
ela tratava com tanto carinho e dedicação. Nossos plantões, como estudantes,
eram regidos pelos apitos e pelos tremores da máquina que até pareciam invadir
aqueles pequeninos corpos já tão agredidos pela toxina do bacilo tetânico. Faleceu
em Natal no dia 11 de maio de 1986, em pleno mandato de presidente da Academia
de Medicina do Rio Grande do Norte
FONTE - INTERNET